traços na linha

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Um figura adormecida no comboio. Era meio-dia e a luz batia-lhe na cara...o sol aquecia-a naquela manhã de Inverno. Ela parecia muito confortável e tranquila.
Como gostei da imagem, tratei-a depois no computador.
As cores eram mais ou menos assim...

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Palavras em linha...

"- Mãe. por que é que és grossa?
Gostava que fosses fininha....
- Oh, Vasco, mas gostas da mãe na mesma, não gostas?
- mmm....gosto! Gosto da cabeça, das camisas e das sandálias!"
Vasco, 3 anos

Tradução do Hotel Lapa Palace para a frase
"Drinking this wuine feels as good as making love":
"Até o vinho é pera manca; é uma pinga que puxa pela pescada marmota, e a engole que nem olho marinho"
Camilo Castelo-Branco, in "A filha do Regicida"; in Carta de vinhos do Hotel Lapa Palace

" Mãe, não posso... a minha barriga é pequenina!"
Vasco, 2004

"Mãe, o sol é quente?
- O sol é uma bola de fogo muito grande que nos aquece, mas está muito longe...
- Ah, então ninguém pode lá ir?
- Não, claro que não!
- A sério!?! Nem vestido de lua?"
João, 2002

"- Mãe, nós dantes também éramos a preto e branco?"
Carolina, 2000

"- Tia, com tigres não consigo, mas olha:
Uma pantera, duas panteras, três panteras...!"
Miguel, 2004

Sobre a Casa do Largo Ribeiro Santos, em frente à Igreja de Santos

A Avó Mitó
Deitada na cadeira azul do canto da salinha, o corpo frágil descansa imóvel, à espera, somente à espera que Deus a leve. Os cabelos brancos e curtos estão penteados para trás e a sua face magra e cheirosa, com poucas rugas, que espelha uma vida bonita, é límpida e clara. Os olhos quase cegos, outrora azul céu, são agora distantes e baços, reflectindo a sua paz interior e uma interminável ternura. O nariz fino e arrebitado deixa ver os lábios estreitos já sem cor mas que sorriem. Devagar, movimenta de quando em quando as mãos transparentes de pele muito fina e fria, à espera de encontrar um carinho, à espera de uma conversa silenciosa.
(sobre a minha avó, um mês antes de morrer - 4. 5. 1913 a 18.12. 2006)

Frasco de bolinhas azuis
Parecia que havia qualquer coisa de magia naquelas bolinhas que roubávamos sempre que íamos a casa da avó.
Com aquela mobília e aquela luz, o escritório do avô Vasco era como um local sagrado e proíbido que nos fazia ter ainda mais vontade de entrar. Em cima da secretária, junto a outros objectos, havia este frasco de vidro transparente, calculo que de cristal, com bolinhas azuis. O mais curioso é que só muito mais tarde percebi a sua função...até lá, eram bolinhas mágicas!
2006

O quarto da empregada
Não sei porque é que tinha tanto medo. Talvez aquelas cortinas todas pudessem esconder alguém ou alguma coisa e passar através delas era tarefa para os mais corajosos. Também me incomodavam aquelas bandeiras lá no canto, provavelmente porque, sem ter propriamente vivido o momento, me faziam lembrar a luta e a morte do tio Zé Tó.
Depois, o quarto. Hoje parece-me um quartito normal com mobília alentejana azul e branca. Há uns anos parecia ter voz e contar histórias. Lembro-me da farda preta e branca em cima da cama, à espera de ser vestida por uma criada, antes de servir correctamente o jantar com a travessa no braço.

O avô Vasco
O cabelo branco matematicamente dividido em tiras paralelas puxadas para trás fazia sobressair os traços da cara, que eram bem marcados e com o sorriso mostrava os dentes grandes. Mas o que guardo do avô com mais clareza é a voz. Um timbre muito forte e grave que vibrava nos nossos ouvidos.

A memória mais antiga
O tio Zé Tó a brincar connosco no corredor. Leváva-nos às cavalitas e fazía-nos cócegas.
Menos ténue, o telefonema que a mãe recebeu, naquele dia 12 de Outubro de 1972, a dizer que o tio tinha morrido. Tinha três anos. Lembro-me como se tivesse sido ontem.

A sala grande
As paredes envelhecidas de cor rosa quente tornavam aquela divisão da casa da avó imponente e majestosa e na mobília clássica, quase real, lia-se um amontoado de vidas que por ali passaram. O espelho de cristal enorme suspenso sobre o sofá cuidado de franjas douradas deixava os nossos olhos percorrerem os seus recantos escuros. Do lado esquerdo, junto à janela esguia com cortinas de cetim verde seco, uma cómoda do século XVIII ostentava objectos de prata e fotos de família. Ao lado um pequeno sofá castanho, segurava no braço direito um cinzeiro de metal amarelo com o fundo manchado pelos cigarros.
Não era uma sala vivida. Não me lembro de entrar lá senão quando o tio ou a avó nos mostravam e contavam histórias sobre a família, já lá vão três gerações. Aliás, nos dias de festa em que a família se encontrava toda reunida, nós os mais novos, combinávamos incursões às várias zonas da casa. Parecia que cada vez que o fazíamos, descobríamos novos recantos, como se a casa não tivesse fim. Desta sala falava a avó com ternura quando contava que noutros tempos se faziam grandes bailes e que se abriam todas as portas que ligavam todas as salas e dançava-se.... Fico a imaginar....
2006

A Tia Adélia
Não faço ideia que idade tinha quando a vi pela primeira vez... porque razão fui a casa dela. Recordo-me da sua silhueta junto à janela aberta numa sala escura, tal como um quadro de Vermeer. Lembro-me também do sinal enorme por cima do lábio superior e da voz forte e autoritária. Cheirava a "casa fechada".
2006

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

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